quarta-feira, 30 de setembro de 2009

encantos...

Nos velhos altares pululavam deuses, tão sacros, decadentes,
tão decrépitos,
que se desvaneciam, já,
as suas vestes,
de maresia salpicadas.
Sacerdotes, trôpegos,
ainda oficiavam,
espalhando incenso,
salmodiando versos inaudíveis,
em línguas encantadas,
esquecidas,
fluidas,
mescladas de ontem.
Balbuciavam encantamentos,
encantos adentro
da flor do tempo
que ressaltava,
voraz,
no pó vetusto
que a cobria,
na secreta,
oculta meia-noite.
















(imagem retirada da net)

sábado, 19 de setembro de 2009

Maçã Verde


Eu não sabia, mas ao apreciar
a maçã verde daquele pomar,
meus olhos de castanhos
em ti postos, doce infância,
ficaram verdes cintilantes
tanto no sentido, como na cor...

Verde: esperança de dias melhores
presentes em cada um de nós.
Ver-te, faz de meu pior dia,
o meu melhor despertar, florescer...
Ainda que a maçã mais conhecida
seja vermelha e enfeitiçada pela paixão,
a verde não é apenas na cor,
um tanto quanto diferente das demais.
A verde também difere
de todas as outras em um pomar,
pois só ela tem um precioso sabor...

Enfeitiçado pela maçã vermelha,
primeiro Adão, que amou perdidamente Eva,
depois a menina Branca de Neve,
passeando no doce bosque da ficção,
fizeram-nos temer pela vermelha fruta.
Ó quanta tristeza para pouca labuta...

A minha maçã verde
é como qualquer outra vermelha maçã,
mas tem pra mim um outro e único sabor...

Verde, cor da esperança...
Ver-te me faz de novo criança,
traz comigo a floração de um novo dia,
todo dia se é feliz, quando se colhe
a maçã verde de um maduro amor...

José Antonio Klaes Roig

Observação: Imagem extraída da internet, do endereço abaixo
http://obaudoedu.blogspot.com/2009/04/
maca-verde-dos-beatles-original.html

sábado, 12 de setembro de 2009

paseo del prado


Os trincos enferrujados
gemem-me nos tímpanos lúgubres.

Há estalidos de desesperança,
faíscam-me nos olhos cerrados.

As planuras esbatem-se
em fragas aprofundantes
alma adentro.

Ferrolhos ondulam-se
em escarpas silenciosas acolá,
aqui tão longe 
que magoam uma sombra;
esforça-se ela por não o ser,
não mergulha nos ossos
que, mansamente, enrijecem
ao sabor de um tempo recuante.

Nada desponta
num plausível rendilhado antigo,
seco,
que já foi luz.

Eis-me aqui.
Um passo atrás
e detrás...
(escrito num Dia de Todos os Santos)
(imagem retirada da net: serra da Freita
no maciço da Gralheira-Portugal)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

nocturno

No caminho do lobo,
encostado ao muro,
sigo as pegadas musgosas,
quase feéricas,
fétidas,
de velhos sonhos da floresta.
Em certas noites,
(dizia-se)
abriam-se atalhos,
a Lua descorava
num festim de gloriosas
chuvas áureas.
Arfo entre dois pontos,
suspiro àquela mata,
que recorda tempos
de fantasias lerdas,
de juízos malfadados,
de intrusões malditas.
Os meus passos suam
soluçam,
suspiram
restos de vinganças,
os meus olhos vêem
garupas escoriadas,
visões almoádas
(de quando o califa imperava),
os meus ouvidos ouvem
rezas há muito esquecidas,
um tropel de imprecações;
os tempos alvorecem
na minha frente...
na busca do dia.

{Ditei-te estas palavras...}


(imagem retirada da net)

(poema originalmente publicado

no meu blogue "sopro divino")